Se uma conversa entre os antepassados europeus de Gisele Bündchen e Rodrigo Hilbert e seus descendentes brasileiros fosse hoje possível, um tradutor provavelmente seria necessário para entender o dialeto Hunsriqueano.
Mesmo quem domina o alemão moderno teria dificuldade em compreender o idioma que muitos imigrantes trouxeram ao Brasil no século 19.
A maioria dos colonos que se instalaram nas primeiras colônias germânicas do Rio Grande do Sul conheciam uma variedade regional chamada hunsriqueano, derivada do Hunsrückisch, dialeto originário da região montanhosa de Hunsrück, no oeste da Alemanha.
Essa forma de expressão, distinta do padrão alemão, chegou ao Brasil em 1824 com os primeiros imigrantes, que se estabeleceram em locais como São Leopoldo, Estrela e Nova Petrópolis.
Um idioma moldado pela migração
No Brasil, o hunsriqueano passou a se desenvolver de maneira independente.
Com o convívio entre falantes de diferentes dialetos germânicos e o contato diário com o português, o idioma sofreu adaptações, incorporou novos termos e ganhou características únicas.
Durante décadas, foi a principal língua de comunicação em várias comunidades rurais do Sul. Era falado em casa, nas lojas e em eventos sociais.
O português foi aprendido paralelamente, mas o dialeto alemão permaneceu como marca de identidade e pertencimento das famílias descendentes.
Em 2012, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reconheceu oficialmente o hunsriqueano como referência cultural brasileira, classificando-o como patrimônio imaterial . A decisão reforçou seu valor histórico e simbólica como língua de imigração.
Declínio e esforço de revitalização
O declínio do hunsriqueano começou a se acentuar a partir da metade do século 20. A pressão pela integração linguística, o ensino obrigatório em português e a urbanização desenvolveram para a redução do uso cotidiano.
Hoje, o idioma sobrevive em pequenas comunidades rurais, em grupos culturais e em projetos educativos, e pesquisadores documentam expressões e vocabulário para preservar a língua.
Parte de um mosaico linguístico brasileiro
O hunsriqueano não é o único idioma de imigração que resiste no país. O talian, de origem italiana, e o pomerano, trazido por colonos germânicos do norte europeu, também continua sendo falado em determinadas regiões.
Em alguns municípios, essas línguas conquistaram reconhecimento institucional.
Um exemplo recente é o de Ivorá , no Rio Grande do Sul, que oficializou o talian como língua cooficial , ao lado do português, valorizando sua importância histórica e cultural. Leia mais sobre a iniciativa aqui .