Após uma série de manifestações em cidades como Lausanne, Genebra, La Chaux-de-Fonds e Friburgo, os trabalhadores de construção na Suíça voltaram às ruas esta semana para exigir melhores condições laborais.
Na terça-feira (4/11), cerca de sete mil manifestantes se reuniram na capital do cantão de Vaud, em Lausanne, reivindicando redução da jornada de trabalho, pausas remuneradas e compensações pelo aumento do custo de vida.
De acordo com o jornal 20 Minutes, o movimento sindical prepara duas novas greves na parte alemã do país, agendadas para os dias 7 e 14 de novembro, o que pode ampliar a mobilização a nível nacional.
Impasse nas negociações coletivas agrava o descontentamento
As manifestações ocorreram após a suspensão das negociações entre os sindicatos e a Associação Suíça de Construtores, em outubro. O impasse envolve a renovação do Acordo Coletivo Nacional do Setor da Construção, que expira no final de 2025 e abrange cerca de 80 mil trabalhadores.
Os representantes sindicais acusam a associação de intransigência. “A recusa em negociar coloca em causa o futuro da profissão e o bem-estar dos trabalhadores”, afirmou Nico Lutz, representante do sindicato Unia, o maior da Suíça.
Reivindicações centrais: jornada menor e pausas remuneradas
Entre as principais reivindicações dos trabalhadores estão:
- Jornadas de trabalho mais curtas, especialmente em períodos de alta carga física;
- Pausa matinal remunerada;
- Compensações financeiras diante da inflação e do aumento do custo de vida;
- Remuneração do tempo de deslocamento, atualmente não pago.
Os sindicatos argumentam que a inflação crescente e o aumento dos preços da energia têm reduzido o poder de compra da classe trabalhadora, enquanto os lucros das grandes construtoras permanecem elevados.
“Os trabalhadores estão a construir a Suíça moderna, mas continuam a ser os que menos se beneficiam dela”, destacou Lutz.
Reação dos empregadores e futuro das negociações
A Federação Suíça da Construção rejeitou as exigências, alegando que o setor já enfrenta custos elevados e que novas concessões “afetariam a competitividade e o equilíbrio econômico das empresas”.
A decisão de suspender as negociações foi vista pelos sindicatos como uma tentativa de ganhar tempo e enfraquecer o movimento sindical. Diante disso, o Unia e outras centrais anunciaram que intensificarão as ações nas próximas semanas, com greves regionais e manifestações ampliadas.
Um cenário de crescente tensão social
O conflito trabalhista na construção civil suíça reflete um cenário mais amplo de tensões sociais no país, onde os custos de vida dispararam após a pandemia e a guerra na Ucrânia.
Apesar da estabilidade econômica, o aumento nos preços da habitação, transporte e alimentação pressiona especialmente os trabalhadores de base, muitos deles imigrantes portugueses, italianos e balcânicos.
Economistas alertam que a falta de diálogo pode comprometer a produtividade do setor e levar a atrasos em grandes obras de infraestrutura. “Se não houver acordo em breve, é possível que a Suíça enfrente o maior protesto da construção civil em uma década”, avaliou um analista do Le Temps.