Italianos no exterior chegam a 6,5 milhões e superam número de estrangeiros na Itália

O relatório Italianos nel Mondo 2025 mostra que os italianos no exterior já somam 6,5 milhões, número que ultrapassa o total de estrangeiros residentes na Itália. O estudo indica que jovens, profissionais qualificados, famílias e até aposentados deixam o país diante da falta de oportunidades e de um sistema econômico considerado estagnado.

A Itália vive uma transformação demográfica silenciosa, profunda e sem sinais de desaceleração. 

O relatório Italianos nel Mondo 2025, divulgado pela Fundação Migrantes, revela que os italianos no exterior já chegam a 6,5 milhões, o equivalente a um em cada nove cidadãos. Trata-se do maior número da história contemporânea do país.

Pela primeira vez, o contingente de italianos residentes fora das fronteiras nacionais supera com folga o número de estrangeiros que vivem na Itália, marcando um ponto de viragem no mapa humano do país.

Inscrições no exterior disparam: 278 mil em um ano

Em 2024, foram 278 mil novas inscrições no AIRE, o registo de cidadãos italianos residentes no exterior, um aumento de 4,5% em apenas doze meses. Desde 2006, o total de italianos fora do país duplicou.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (Istat), 155.732 pessoas deixaram o país no último ano, o maior fluxo migratório já registrado.

Não é mais “fuga de cérebros”: é fuga de um país estagnado

A nova emigração italiana deixou de ser composta apenas por jovens altamente qualificados. Agora, quem parte inclui:

  • profissionais de todas as áreas,
  • famílias com crianças pequenas,
  • mulheres (cujo número cresceu 115% em 20 anos),
  • adultos acima dos 50 anos,
  • e até aposentados que seguem filhos e netos.

A Europa permanece como destino principal (76%), sobretudo Reino Unido, Alemanha e Suíça.

Razões para sair

A Fundação Migrantes é categórica: a emigração atual é resposta a um país que não oferece estabilidade nem perspectivas claras de futuro. Entre as queixas recorrentes estão:

  • mercado de trabalho bloqueado,
  • baixos salários e contratos precários,
  • falta de políticas públicas eficazes,
  • pouca valorização do mérito,
  • sensação de estagnação e falta de oportunidades de ascensão.

Para muitos italianos, partir se tornou menos um projeto e mais uma necessidade.

Novo padrão: quem sai, fica

Outro fenômeno identificado é a transformação da emigração temporária em migração definitiva.

A Fundação Migrantes observa que parte significativa dos emigrantes:

  • constrói carreira no exterior,
  • estabelece família,
  • e não encontra razões econômicas ou sociais para regressar.

A mobilidade deixou de ser episódica: tornou-se estrutural.

Reversão histórica: Itália atrai menos migrantes do que expulsa

Ao mesmo tempo em que italianos deixam o país em número recorde, a Itália perdeu capacidade de atrair migrantes. Em 2019, havia 5,3 milhões de estrangeiros na Itália, exatamente o mesmo número de italianos vivendo fora.

Hoje, o país contabiliza:

  • 6,5 milhões de italianos no exterior,
  • 5,3 milhões de estrangeiros residentes.

Ou seja, há um milhão a mais de italianos fora do país do que imigrantes dentro dele. A Itália, que durante décadas foi destino de acolhimento, reencontra o papel histórico de país de partida.

A “21ª região da Itália”: uma nação dispersa pelo mundo

Com números tão expressivos, fala-se cada vez mais na “Itália fora da Itália”, considerada informalmente a 21ª região do país, um território extenso, global e culturalmente coeso.

Para a Fundação Migrantes, compreender essa diáspora é essencial para formular políticas públicas, pensar o futuro econômico e redesenhar a relação do Estado com seus cidadãos espalhados pelo mundo.

Um país que forma talentos, mas não os retém

A análise final do relatório é contundente: a mobilidade de milhões de italianos é o reflexo direto de uma Itália que não consegue oferecer o suficiente para mantê-los.

A Fundação resume: “A Itália continua em movimento, mas este movimento, hoje, é para fora.”

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