A eleição holandesa de 2025 trouxe um resultado inesperado: o avanço da extrema-direita na Holanda foi travado pelo crescimento do centro moderado.
Liderado por Rob Jetten, o partido D66 (Democratas 66) se tornou o grande vencedor ao sair de 9 para cerca de 26 cadeiras no Parlamento, impulsionado por eleitores cansados de polarização e em busca de estabilidade política.
O recuo da extrema-direita aconteceu após a queda do governo Dick Schoof, em junho, provocada pela saída do PVV, partido de Geert Wilders, da coalizão devido a divergências sobre imigração e asilo.
O PVV, que havia vencido em 2023 com 37 cadeiras, caiu para aproximadamente 26 em 2025.
Por que o centro cresceu? Eleitores buscaram previsibilidade
Pesquisas já indicavam que o cansaço com a retórica agressiva de Wilders e a instabilidade parlamentar fortalecia o D66. Os partidos tradicionais também ajudaram a isolar o PVV ao recusar alianças com Wilders, considerado pouco confiável para governar. Isso abriu espaço para uma coalizão mais moderada.
Rob Jetten, ex-ministro do Clima e Energia, trouxe propostas mais atuais: expansão de energia verde, combate à crise habitacional, alívio sobre o sistema de saúde e políticas migratórias equilibradas, como acolhimento, integração e deportação de imigrantes irregulares.
Embora possa se tornar o primeiro premiê holandês jovem e abertamente gay, sua vida pessoal não dominou o debate. Felizmente, a campanha teve foco em suas propostas.
Jetten é favorito a primeiro-ministro, mas depende de coalizão
Para governar, o D66 precisa formar uma coalizão com outros partidos centristas e liberais. Na Holanda, esse processo leva semanas, às vezes meses, devido à fragmentação partidária. Uma prioridade vista por todos é manter a extrema-direita fora do governo, criando uma frente moderada estável.
Enquanto a extrema-direita recua na Holanda, ela cresce no resto da Europa
A virada holandesa contrasta com o cenário europeu. Na França, vemos o fortalecimento de Marine Le Pen; na Itália, Giorgia Meloni com a nova direita radical. Indo mais o norte europeu, a Alemanha sobe nas pesquisas com discurso anti-imigração. E falando de políticas anti-imigração, Portugal vem criando um ambiente para políticas migratórias mais duras.
Especialistas afirmam que a Holanda envia um recado para os países vizinhos: alianças do centro político funcionam para conter projetos extremistas.
Derrota da extrema-direita na Holanda pode virar tendência
Para o historiador Christophe de Voogd, o país enviou “um sinal direto à Europa de que há alternativas à política radical”. O pesquisador da Ipsos, Asher van der Schelde, acrescenta que a influência de Donald Trump não impulsionou a extrema-direita holandesa, ao contrário, assustou parte do eleitorado.
Outros analistas, como Henri Bontenbal, acreditam que a estratégia holandesa pode inspirar campanhas mais moderadas em outros países.
Impacto para brasileiros na Europa
A derrota da extrema-direita na Holanda também interessa aos brasileiros que vivem no país ou planejam emigrar.
Um governo centrista tende a adotar políticas migratórias mais equilibradas, com maior segurança jurídica, menor risco de xenofobia e acesso estável a serviços públicos.
Como a Holanda exerce forte influência dentro da União Europeia, a vitória moderada pode contribuir para suavizar debates migratórios em outros países do bloco.
Imigração seguirá sendo tema central na Europa
Mesmo com a vitória moderada na Holanda, a imigração permanece no centro da política europeia.
Com envelhecimento populacional, falta de mão de obra e crises geopolíticas, o continente depende da imigração ao mesmo tempo em que enfrenta ondas de populismo que exploram o tema nas eleições.