O debate sobre o acesso à saúde para italianos no exterior ganhou intensidade após avançar na Câmara dos Deputados uma proposta que permite a cidadãos inscritos no AIRE, e residentes fora da União Europeia, obter a Tessera Sanitaria mediante o pagamento anual de €2.000.
A medida atualiza a legislação de 1978 e já passou pela Comissão de Assuntos Sociais.
O assunto repercutiu e gerou preocupação entre comunidades italianas no exterior, especialmente na América Latina. Diante de interpretações equivocadas que circularam em portais e redes sociais, o deputado Fabio Porta (PD) esclareceu pontos essenciais da proposta.
Taxa será opcional e não retira direitos já existentes
Segundo Porta, a taxa não é obrigatória e não limita o acesso ao atendimento médico já garantido pela legislação italiana.
Ele explica que o projeto cria uma alternativa, não uma exigência: quem quiser ter acesso ao sistema nacional de saúde como um residente poderá solicitar a Tessera Sanitaria pagando a contribuição anual.
O parlamentar reforça que continuam válidos:
- o direito ao atendimento de emergência,
- e a cobertura gratuita por até 90 dias para italianos que retornem temporariamente ao país sem seguro válido.
Esses dois direitos não são modificados pela proposta, ponto que gerou mal-entendidos em versões iniciais de reportagens sobre o tema.
Atualização incorporada: ERRATA originou ajustes na compreensão do texto
As informações corrigidas por Fabio Porta foram incluídas após a publicação inicial da proposta, que chegou a ser interpretada como uma ameaça ao atendimento para italianos residentes fora da UE caso não pagassem a taxa.
O deputado esclareceu que isso não procede, e que o texto não retira direitos, apenas acrescenta uma opção de acesso ampliado ao sistema de saúde.
Porta também criticou três pontos do projeto: o valor de €2.000, considerado alto para residentes de países com renda baixa ou média, a ausência de isenção para estudantes e a exclusão de aposentados. Emendas do Partido Democrático foram rejeitadas pelo governo.
Desigualdades expostas
A principal crítica feita por associações de italianos no exterior é que o valor não considera a realidade de países como Brasil, Argentina, Peru, Moçambique ou República Dominicana, onde €2.000 pode equivaler a cinco, seis ou até dez salários mensais.
Segundo representantes da diáspora, a medida corre o risco de privilegiar apenas quem vive em países com maior poder econômico, criando uma divisão entre italianos de “primeira” e “segunda” categoria.
Proposta segue em debate no Parlamento
O autor do texto, deputado Andrea Di Giuseppe (Fratelli d’Italia), afirma que a medida é um “ato de respeito” para quem vive fora e deseja acessar o sistema público de forma regular, evitando abusos ou acessos indevidos.
Já Fabio Porta defende ajustes para que a mudança não se transforme em barreira financeira. O debate na Câmara deve continuar nas próximas semanas.