A violência de gênero continua a ser um dos crimes mais subnotificados da União Europeia e, segundo o Instituto Europeu para a Igualdade de Gênero (EIGE), os números oficiais mostram apenas “a ponta do icebergue”.
Embora 1 em cada 3 mulheres já tenha sofrido violência física ou sexual ao longo da vida, apenas 13,9% comunicam o episódio à polícia.
A maioria recorre a vias informais: 63,7% contam a alguém próximo, enquanto 20,5% procuram serviços de saúde ou assistência social.
Falta de dados detalhados impede conhecer a realidade
O EIGE alerta que muitos casos desaparecem das estatísticas porque vários países ainda não desagregam os dados por sexo, idade, tipo de violência ou relação com o agressor.
Entre os Estados-membros que fornecem dados completos, os padrões são claros:
- 85% das vítimas de violência por parceiro íntimo são mulheres (12 países)
- 76% das vítimas de violência doméstica são mulheres (20 países)
- 47% das vítimas de violência física ou sexual de qualquer agressor são mulheres (13 países)
Outro ponto relevante: a maioria dos incidentes não é isolada. Na UE, 31,8% das mulheres relatam violência física, ameaças ou violência sexual por parceiro íntimo — e 14,6% sofreram episódios repetidos.
O que a UE está fazendo?
Para o EIGE, o sistema atual é insuficiente. Alguns países já adotam boas práticas, como relatórios anuais detalhados sobre violência doméstica e divulgação de dados completos, separados por sexo, idade e relação entre vítima e agressor.
Mas a maioria ainda carece de padronização. Para corrigir isso, a UE implementará normas comuns de recolha de dados a partir de 2027, obrigando todos os Estados-membros a atualizar estatísticas anualmente.
Segundo Scheele, essa harmonização permitirá políticas mais eficazes e melhor apoio às vítimas, além de revelar por que tantas mulheres evitam sistemas judiciais ou não chegam a denunciar.
Por que isso importa?
A subnotificação impede diagnósticos precisos e mascara a escala da violência na UE. Sem dados completos, políticas públicas ficam incompletas e milhares de mulheres continuam invisíveis.
Como resume o EIGE: “Os dados mostram apenas as mulheres que conseguiram pedir ajuda. Não devemos esquecer as que ficaram em silêncio”.