A morte de Ornella Vanoni, aos 91 anos, encerra um capítulo fundamental da música italiana, e também da presença da música brasileira na Europa.
A artista morreu na noite da última sexta-feira (21), após um mal-estar em sua casa, em Milão. Socorristas foram chamados, mas não conseguiram reanimá-la, segundo o Corriere della Sera.
Um legado que atravessou sete décadas
Nascida em 1934, Vanoni construiu uma carreira sólida, intensa e única. Símbolo de autenticidade e ousadia artística, permaneceu ativa até seus últimos anos, sempre reinventando sua relação com a música.
O elo com o Brasil
Nos anos 1970, ela protagonizou um marco cultural com o disco La voglia, la pazzia, l’incoscienza e l’allegria, gravado com Vinicius de Moraes e Toquinho, com faixas de Tom Jobim e Chico Buarque. O álbum se tornou um dos principais vetores da popularização da música brasileira na Itália.
Vanoni também eternizou clássicos brasileiros, como “L’appuntamento”, versão de Sentado à Beira do Caminho, de Roberto Carlos, e colaborou com nomes como Sergio Bardotti.
Da cena teatral ao estrelato musical
Vanoni iniciou sua trajetória no Piccolo Teatro di Milano, dirigida por Giorgio Strehler. Ali nasceu o projeto “Le canzoni della Mala”, que resgatou baladas populares com um olhar sofisticado, transformando-a em referência artística.
Na década seguinte, aproximou-se da Escola Genovesa e viveu um relacionamento marcante com Gino Paoli, que a imortalizou em “Senza fine”.
Ao longo da carreira, colaborou com gigantes como Lucio Dalla, Fabrizio De André, Dario Fo e Fiorenzo Carpi. Tornou-se ainda a primeira mulher a receber o Prêmio Tenco.
Ativa até o fim
Mesmo aos 90 anos, seguia gravando e criando. Recentemente lançou “Ti voglio”, ao lado de Elodie e Ditonellapiaga, e o álbum “Diverse”, pela BMG. Publicou também o livro “Vincente o perdente”, escrito com Pacifico.
Sua presença cativante no programa “Che tempo che fa” reacendeu sua popularidade entre gerações mais jovens.
Uma despedida que atravessa fronteiras
A morte de Ornella Vanoni deixa um vazio na cultura italiana, mas seu legado permanece vivo em discos, colaborações e na ponte afetiva que construiu entre Itália e Brasil.
Para os brasileiros, ela não foi apenas uma cantora italiana: foi uma intérprete apaixonada pela nossa música, responsável por levá-la mais longe do que imaginávamos.