A violência de gênero na França voltou ao centro do debate público após uma manifestação realizada na noite de terça-feira em Paris.
Dezenas de pessoas ocuparam o centro da capital para homenagear cinco mulheres mortas na última semana pelos seus parceiros ou ex-parceiros e para exigir medidas urgentes do governo.
A ativista Marie-Josée, de 78 anos, resumiu o sentimento geral: “Somos constantemente oprimidos pela realidade.” Segundo ela, o país vive uma regressão no combate à desigualdade e à violência contra a mulher.
Novo relatório pressiona governo francês
Horas antes da manifestação, o Ministério da Justiça recebeu um relatório que cobra mudanças profundas na forma como o sistema judicial trata casos de violência doméstica. O documento propõe, entre outras medidas, a criação de magistrados especializados exclusivamente em violência intrafamiliar, a ser testado em fase piloto.
Divulgado pelo Le Parisien antes do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, o relatório afirma que o país enfrenta uma crise que “exige uma abordagem global”, e não apenas reformas parciais.
Números mostram agravamento da crise
As estatísticas oficiais reforçam a urgência:
- 107 mulheres foram mortas pelo parceiro ou ex-parceiro em 2024, um aumento de 11% em relação ao ano anterior.
- Segundo a missão governamental MIPROF, todos os dias mais de três mulheres sofrem femicídio ou tentativa de femicídio.
- O observatório anual indica que a cada 7 horas uma mulher é morta, tem tentativa de assassinato, ou é levada ao suicídio por um parceiro.
Mulheres acima dos 70 anos representam 26% das vítimas, número que cresceu de forma significativa.
O caso de Gisèle Pelicot, de 72 anos, drogada e abusada durante uma década pelo marido e dezenas de homens, expôs publicamente a violência contra mulheres mais velhas, um tema historicamente negligenciado.
Especialistas denunciam falta de investimento
Para organizações feministas, a França falha por falta de coordenação e, sobretudo, de financiamento.
Grupos de apoio estimam que seriam necessários 3 bilhões de euros por ano para uma política nacional eficaz, mas o orçamento de 2025 dedicado à igualdade de gênero é de apenas 94 milhões de euros.
O Conselho da Europa já classificou a baixa taxa de condenações como “particularmente preocupante” e pediu medidas urgentes.
A ativista Violette, presente no protesto, afirmou que o governo só reage quando há repercussão midiática: “Isso desperta as pessoas por 10 minutos e depois tudo volta ao normal”.
Sensação de urgência permanece
Enquanto o Parlamento discute novas propostas, manifestantes temem que o governo ainda subestime a gravidade da situação. Para elas, o país vive uma crise crescente, e a resposta estatal continua muito aquém do que a realidade exige.