Talibãs voltaram ao centro do debate na União Europeia depois que o comissário europeu da Migração, Magnus Brunner, afirmou em entrevista ao Portal Euronews que o bloco precisa manter conversas técnicas com autoridades afegãs, mesmo sem reconhecer o regime dos talibãs. Segundo ele, o diálogo é “necessário”, apesar de não ser “fácil” nem “agradável”.
Brunner explicou que a cooperação a nível técnico é conduzida apenas por funcionários públicos, sem participação de figuras políticas, e é fundamental para lidar com casos de afegãos condenados por crimes graves ou considerados ameaça à segurança dentro da União Europeia.
Acordo da Alemanha provoca polêmica
A declaração surge após a Alemanha anunciar que negocia um acordo direto com os talibãs para acelerar repatriamentos. A medida envolve afegãos com pedidos de asilo negados ou condenações criminais no país.
O anúncio gerou críticas dentro da própria coligação de governo e entre defensores dos direitos humanos. Para opositores, manter diálogo direto com o regime pode acabar normalizando ou legitimando os talibãs, conhecidos por violações sistemáticas, especialmente contra mulheres e meninas desde 2021.
Berlim insiste que não reconhece o governo talibã e que as conversas têm caráter exclusivamente operacional.
UE também já iniciou conversas técnicas
A própria União Europeia admite que iniciou contatos exploratórios com representantes talibãs, também sem reconhecimento formal. A pressão para essas conversas veio de 20 Estados-membros que reivindicaram uma solução conjunta para devolver ao Afeganistão cidadãos em situação irregular.
A queixa dos governos? Não existe acordo formal de repatriamento com o Afeganistão, o que dificulta a expulsão de afegãos condenados ou rejeitados nos sistemas de asilo.
ONU alerta: Afeganistão não tem como receber repatriados
Enquanto governos europeus pressionam por retornos, a ONU alerta para a falta de condições mínimas no Afeganistão.
Kanni Wignaraja, diretora do PNUD para a Ásia e o Pacífico, disse à Euronews que existe um “descompasso” entre as decisões internacionais de repatriamento e a capacidade real das comunidades afegãs de absorver quem retorna.
Um relatório recente do PNUD afirma que:
- o país enfrenta restrições severas a direitos básicos, sobretudo para mulheres;
- falta acesso à ajuda internacional;
- repatriados encontram enormes dificuldades de reintegração.
Alguns especialistas veem possibilidade de avanço
Embora a maior parte da comunidade internacional critique qualquer aproximação ao regime talibã, alguns analistas acreditam que a pressão diplomática e o diálogo técnico podem, em menor escala, contribuir para avanços no campo dos direitos humanos.
Por enquanto, no entanto, a UE mantém a posição oficial: falar não significa reconhecer o regime talibã.