A autorização de residência na Espanha se tornou um dos processos migratórios mais disputados da Europa.
Dados divulgados pelo governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez, mostram que mais de 1,3 milhão de pedidos de residência aguardam análise no Escritório de Estrangeiros (Oficina de Extranjería).
Além disso, cerca de um milhão de solicitações de cidadania espanhola também estão em tramitação, a maioria apresentada por descendentes de espanhóis.
O volume elevado reflete uma política migratória mais flexível adotada pela Espanha para enfrentar a escassez de mão de obra.
Segundo especialistas, o país tem seguido caminho oposto ao de outras nações europeias que endureceram regras de imigração nos últimos anos.
“A Espanha precisa urgentemente de trabalhadores estrangeiros, principalmente em setores estratégicos da economia. As facilidades para a autorização de residência na Espanha são uma resposta direta ao envelhecimento da população e à falta de mão de obra”, explica a advogada Simone Marins, especialista em direito migratório.
Crescimento econômico aumenta índice de imigração
A demanda crescente por autorização de residência está diretamente ligada ao desempenho econômico espanhol.
Em 2024, a Espanha registrou crescimento de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o maior da União Europeia, cuja média ficou em 0,8%.
Para 2025, o governo projeta avanço de 2,9%, enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima crescimento de 2,5%.
O dinamismo econômico tem sido puxado pelo consumo das famílias, pelos investimentos na construção civil e pela expansão do setor de tecnologia.
Com o desemprego em queda, atualmente em 10,4%, o país passou a depender cada vez mais de trabalhadores estrangeiros para sustentar esse ritmo.
“São vários os setores que enfrentam escassez de mão de obra, como hotelaria, agricultura, construção e tecnologia. Facilitar a regularização de imigrantes virou uma política econômica”, observa Marins.
Latino-americanos em destaque
Grande parte dos pedidos de autorização de residência na Espanha vem de cidadãos da América Latina, especialmente brasileiros.
A proximidade cultural e linguística, aliada à simplificação de processos de regularização, tem tornado o país um destino preferencial.
Essa política contrasta com a adotada por Portugal, que recentemente endureceu regras para imigração e reagrupamento familiar.
“Hoje, a Espanha é mais atrativa do ponto de vista migratório do que Portugal”, avalia a especialista.
Escritório de Estrangeiros sobrecarregado
O crescimento acelerado dos pedidos trouxe consequências administrativas.
O Escritório de Estrangeiros enfrenta sobrecarga de trabalho, falta de pessoal e limitações tecnológicas, o que tem provocado atrasos significativos na análise dos processos.
Apesar disso, segundo Marins, a situação espanhola ainda é menos grave do que a vivida em Portugal, onde imigrantes enfrentam filas de espera de três a quatro anos para regularização junto à AIMA.
Corrida pela cidadania espanhola
O fim da Lei da Memória Democrática, em 22 de outubro, intensificou a corrida pela cidadania espanhola.
Conhecida como “Lei dos Netos”, a norma permitia que descendentes de espanhóis solicitassem a nacionalidade sem limite de idade ou exigência de residência na Espanha.
No Brasil, consulados espanhóis, especialmente o de São Paulo, registraram aumento expressivo de atendimentos nas semanas que antecederam o fim do prazo.
Com mais de 2,3 milhões de pedidos somados entre residência e cidadania, a Espanha vive hoje um dos maiores desafios migratórios da sua história recente, impulsionado não pela rejeição, mas pela necessidade de manter a economia em crescimento.