Os trabalhadores imigrantes abandonam Portugal num ritmo sem precedentes nos últimos anos.
Um estudo do Banco de Portugal (BdP), com base em dados da Segurança Social, revela que o número de saídas de trabalhadores estrangeiros aumentou cerca de 40% ao mês ao longo de 2024, atingindo o nível mais elevado desde o início da série histórica analisada, em 2015.
Segundo o levantamento, divulgado na última sexta-feira (12), o ritmo médio mensal de saídas praticamente dobrou em dois anos.
Em 2022, cerca de 1,9 mil trabalhadores estrangeiros deixavam o país por mês. Em 2023, esse número subiu para 2,7 mil e, em 2024, alcançou aproximadamente 3,8 mil saídas mensais, um aumento de 40% em relação ao ano anterior.
Estima-se que cerca de 32,3 mil trabalhadores imigrantes tenham abandonado Portugal em 2023.
Já em 2024, o total de saídas chegou a aproximadamente 45 mil pessoas, o maior volume registrado nos últimos nove anos.
O BdP ressalva que pode haver pequenas duplicações nos registos, mas considera que o impacto é residual.
Mudança de política acelera saídas
A análise mensal mostra que o movimento de abandono do país se intensificou a partir de junho de 2024, quando o governo português anunciou um pacote de medidas para endurecer as regras migratórias.
Na ocasião, o Executivo revogou, por decreto-lei, a norma que permitia a regularização de imigrantes por meio da chamada “manifestação de interesse”, utilizada por quem comprovasse 12 meses de descontos para a Segurança Social.
Até maio de 2024, o número de saídas mantinha-se próximo das três mil por mês. No entanto, nos últimos meses do ano, especialmente em novembro e dezembro, esse valor ultrapassou cinco mil saídas, segundo os dados analisados pelo banco central.
Entradas de imigrantes também despencam
Além do aumento expressivo nas saídas, o estudo revela uma forte queda nas entradas de trabalhadores estrangeiros em Portugal.
De acordo com o BdP, o número de novos trabalhadores imigrantes registrados na Segurança Social caiu cerca de 40% no segundo semestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Entre junho e dezembro de 2023, Portugal recebia, em média, cerca de 20 mil trabalhadores estrangeiros por mês. Um ano depois, esse ritmo caiu para aproximadamente 12 mil, representando quase metade do volume anterior.
Esse duplo movimento,mais saídas e menos entradas, teve impacto direto no saldo migratório de trabalhadores estrangeiros, que corresponde à diferença entre quem entra e quem sai do país.
Segundo o BdP, esse saldo atingiu o pico em maio de 2023 e, desde então, entrou em queda.
“No segundo semestre de 2024, o ritmo da redução intensificou-se, com as entradas líquidas a descerem para cerca de sete mil indivíduos por mês, em média, face a aproximadamente 17 mil no mesmo período de 2023”, aponta o estudo.
Nível mais baixo desde 2021
O Banco de Portugal destaca que, no final de 2024, o saldo migratório de trabalhadores estrangeiros caiu para o nível mais baixo desde fevereiro de 2021.
Já no período entre janeiro e agosto de 2025, as entradas mantiveram-se estáveis em torno de 12 mil indivíduos por mês, sem sinal de recuperação significativa.
Os dados reforçam o impacto das mudanças na política migratória portuguesa, tanto sobre os imigrantes que já residem no país quanto sobre aqueles que consideram Portugal como destino.
O endurecimento das regras, aliado à incerteza nos processos de regularização, tem contribuído para tornar o país menos atrativo para trabalhadores estrangeiros, justamente em um contexto de escassez de mão de obra em vários setores da economia.