Prefeito de Val di Zoldo, em Vêneto, critica acesso de descendentes italianos ao sistema público de saúde

O prefeito de Val di Zoldo, no Vêneto, criticou a proposta que permite a descendentes italianos residentes fora da União Europeia acessar o sistema público de saúde mediante pagamento anual, alegando risco de turismo médico e sobrecarga do serviço.

O debate sobre o acesso de descendentes italianos ao sistema público de saúde ganhou novos contornos na Itália após declarações do prefeito de Val di Zoldo, no Vêneto. 

Camillo De Pellegrin voltou a criticar a proposta aprovada pela Câmara dos Deputados que autoriza cidadãos italianos residentes no exterior, inscritos no AIRE, a utilizar o Serviço Sanitário Nacional mediante o pagamento de uma taxa anual.

Em entrevista concedida neste domingo (14) ao jornalista Claudio Fontanive, do jornal Il Gazzettino, o prefeito afirmou que a medida representa um risco concreto para um sistema de saúde que já enfrenta limitações financeiras, falta de profissionais e longas filas de espera.

Segundo De Pellegrin, a proposta não atrairia pessoas saudáveis, mas sim indivíduos com doenças graves e tratamentos de alto custo. 

Para ele, isso poderia transformar o acesso ao sistema italiano em uma forma de turismo médico, com impacto direto sobre a sustentabilidade do serviço público.

“Pessoas com problemas de saúde que exigem tratamentos complexos, caros e de ponta, que talvez seus países não ofereçam ou que não possam pagar em seus próprios países, serão incentivadas a se inscrever”, afirmou. “Será que o que provavelmente se tornará turismo médico é sustentável para o nosso sistema de saúde?”, questionou o prefeito.

Proposta prevê taxa anual estrangeiros

O texto aprovado pela Câmara estabelece que italianos inscritos no AIRE, o cadastro de cidadãos italianos residentes no exterior, poderão acessar o sistema público de saúde mediante o pagamento de uma contribuição anual de 2 mil euros. 

A medida ainda precisa passar pelo Senado para entrar em vigor.

Na avaliação de De Pellegrin, o valor não seria atrativo para quem não necessita de cuidados frequentes. 

“Quem está saudável dificilmente pagará esse montante apenas como prevenção. Já quem precisa de tratamentos caros verá nisso uma oportunidade”, afirmou.

Críticas recorrentes aos descendentes de italianos

Não é a primeira vez que o prefeito de Val di Zoldo se posiciona de forma crítica em relação aos descendentes de italianos que vivem fora da União Europeia. 

Em ocasiões anteriores, De Pellegrin já havia se manifestado contra políticas que ampliam direitos a cidadãos que, segundo ele, não contribuem regularmente para o sistema italiano.

As declarações reacendem um debate sensível na Itália: o equilíbrio entre os direitos da cidadania italiana no exterior e a capacidade do Estado de sustentar serviços públicos universais, como a saúde.

Debate nacional em curso

A proposta divide opiniões no Parlamento e na sociedade italiana. 

Defensores da medida argumentam que a taxa anual funcionaria como uma forma de contribuição direta, garantindo acesso apenas a quem estiver disposto a pagar, sem onerar os contribuintes residentes no país.

Críticos, por outro lado, temem que a iniciativa gere pressão adicional sobre hospitais e serviços especializados, sobretudo em regiões já afetadas pela escassez de médicos e recursos.

Enquanto o projeto segue em discussão no Senado, o tema promete continuar no centro do debate público, especialmente em um contexto de envelhecimento da população e de desafios crescentes para o sistema de saúde italiano.

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