A Volkswagen fecha fábrica na Alemanha pela primeira vez desde a sua fundação, há 88 anos, marcando um momento simbólico para a indústria alemã.
A unidade afetada é a fábrica de Dresden, no leste do país, a menor da montadora em território alemão, mas carregada de forte valor histórico e simbólico.
Segundo informações divulgadas pela imprensa alemã e pelo Financial Times, a produção na chamada “Fábrica Transparente” será suspensa oficialmente na próxima semana, embora parte das atividades possa se estender até o fim de dezembro.
A decisão afeta cerca de 250 postos de trabalho, em meio a um plano de reestruturação do grupo Volkswagen.
Apesar do encerramento das atividades industriais, a montadora anunciou que o espaço não será abandonado.
A antiga fábrica será transformada em um campus de inovação, com foco em pesquisa e desenvolvimento nas áreas de inteligência artificial, microprocessadores, robótica e novas tecnologias industriais.
O projeto envolve um investimento estimado em 50 milhões de euros ao longo de sete anos, em parceria com a Universidade Técnica de Dresden e o governo regional da Saxônia.
De acordo com o jornal econômico Handelsblatt, o presidente da Volkswagen, Thomas Schäfer, garantiu que 155 funcionários permanecerão vinculados à nova estrutura, número superior ao inicialmente previsto.
Além disso, trabalhadores que aceitarem transferência para a sede principal da empresa, em Wolfsburg, receberão um bônus de até 30 mil euros.
Da produção ao laboratório tecnológico
A fábrica de Dresden teve um grande papel na história da Volkswagen. Entre 2001 e 2016, produziu o sedã de luxo Phaeton. Posteriormente, passou a fabricar o e-Golf e, mais recentemente, o modelo elétrico ID.3.
A produção deste último será encerrada definitivamente em janeiro.
Cerca de 60 trabalhadores ainda não sabem se serão transferidos, realocados ou permanecerão temporariamente sem função definida.
A Volkswagen, no entanto, afirma que todos os empregados do grupo têm seus postos garantidos até 2030, mesmo em caso de paralisação produtiva.
Crise no setor automotivo europeu
O encerramento ocorre em meio a um cenário de forte pressão sobre a indústria automotiva europeia.
A Volkswagen enfrenta queda nas vendas, especialmente na China, além de custos elevados com a transição para veículos elétricos e impactos da disputa comercial entre Europa, Estados Unidos e China.
É estimado que tarifas e barreiras comerciais possam custar mais de 5 bilhões de euros ao grupo.
O plano global de reestruturação da montadora prevê a eliminação de cerca de 35 mil empregos nos próximos anos. Outras fábricas na Alemanha operam em regime de redução de jornada ou enfrentam risco de fechamento.
Enquanto isso, a unidade da Volkswagen em Portugal, a Autoeuropa, segue em sentido oposto, com investimentos para adaptação da produção a modelos híbridos e elétricos, incluindo o futuro ID.1.
Mesmo sendo a menor fábrica do grupo, o fato de que a Volkswagen fecha a primeira fábrica na Alemanha expõe o grau de transformação, e até de tensão, vivido pelo coração industrial da Europa.