Pianista brasileira “sumida” dos arquivos da AIMA é chamada para renovar residência

Depois de ter “desaparecido” dos arquivos da AIMA, a pianista brasileira Lilian Kopke foi chamada para renovar sua autorização de residência em Portugal, onde vive há 38 anos.

Depois de meses sem conseguir qualquer resposta da AIMA, a pianista e professora Lilian Kopke, que vive há 38 anos em Portugal, foi finalmente chamada pela agência para renovar sua autorização de residência, vencida desde 15 de janeiro de 2025. 

O caso ganhou destaque após a brasileira denunciar publicamente que seus dados haviam “sumido” do sistema da AIMA, o que a impedia de atualizar seus documentos e colocava sua situação no país em risco.

“Sempre lutei pela minha família, pela minha escola, pelos meus alunos e não deixaria de fazer o mesmo para defender os meus direitos”, afirmou Lilian ao Jornal Público. Segundo ela, apenas após tornar o caso público é que houve reação da agência. “A exposição é cansativa, mas valeu a pena, pois percebi que há muitas pessoas na mesma situação”, contou.

Um caso que revela falhas na burocracia da imigração

O caso de Lilian expõe as falhas e atrasos nos processos da AIMA, responsável pela regularização de estrangeiros em Portugal. Antes de receber a convocação da agência, a pianista relata que viveu momentos de desespero:

“Os telefones não funcionam e ninguém responde aos e-mails. Não há com quem falar. Só me restava dormir na porta da AIMA,  e eu não faria isso.”

A artista chegou a cogitar voltar ao Brasil devido à falta de respostas, apesar de toda sua vida estar em Portugal. “Sair seria um problema, porque só tenho o passaporte brasileiro. Qualquer país vai exigir passagem de volta, e como explicaria que a AIMA perdeu meus documentos?”, questionou.

Uma vida dedicada à música e à educação

Lilian chegou a Lisboa em 1987 para estudar música e construiu uma carreira sólida como pianista e professora. Lecionou em conservatórios de Almada, Setúbal e Lisboa, além de colaborar com escolas de dança e teatro. Hoje, integra o corpo docente do Conservatório Nacional.

“Foi desafiador chegar sozinha, sem família e sem conhecer ninguém. Trabalhei muito e sou grata pela minha vida profissional aqui”, disse.

Apesar de quase quatro décadas em Portugal, a pianista optou por não solicitar a cidadania portuguesa. “Sempre senti que é difícil ser totalmente aceita. Você é de fora e vai ser sempre de fora”, confidenciou.

Burocracia e preconceito: duas faces do mesmo problema

Além dos trâmites burocráticos, Lilian enfrentou episódios de preconceito. “Portugal mudou muito. Antes as pessoas não se sentiam à vontade para expressar ódio; agora, com o avanço da extrema-direita, o discurso xenófobo parece normalizado”, disse.

Ela relatou ter sido vítima de xenofobia em e-mails e comentários profissionais. “Recebi um e-mail de um colega com ofensas sobre o ‘Terceiro Mundo’. Entrei com processo, mas foi arquivado. Aqui, xenofobia não é crime”, lamenta.

Um retrato dos desafios de imigrantes no país

O caso da pianista simboliza a situação de milhares de estrangeiros que enfrentam dificuldades com a AIMA, sucessora do antigo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Desde que a nova agência assumiu as funções migratórias, têm sido frequentes as queixas sobre falhas no sistema, atrasos e falta de comunicação.

Lilian resume com amargura: 

“Vai levar tempo para as pessoas perceberem que o problema não é o imigrante, e sim a saúde, a habitação, as grávidas que têm filhos nas ambulâncias e a dependência do turismo.”

Questionada pelo Jornal Público, a AIMA não respondeu até o fechamento desta edição.

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