Vendas de casas na Europa crescem, mas ritmo varia entre países 

As vendas de casas na Europa apresentaram crescimento médio de 10% no segundo trimestre de 2025, mas a recuperação é desigual. Enquanto França, Portugal e Luxemburgo lideram a alta nas transações imobiliárias, países como Irlanda, Malta e Hungria registraram forte queda. Especialistas apontam que os cortes de juros do Banco Central Europeu (BCE) e os programas de incentivo habitacional influenciam diretamente o ritmo dos mercados nacionais.

As vendas de casas na Europa voltaram a crescer no segundo trimestre de 2025, mas o ritmo vem variando entre os países da União Europeia (UE). Segundo dados divulgados pelo Eurostat, o volume total de transações imobiliárias aumentou 10% em comparação com o mesmo período de 2024, refletindo uma retomada gradual do setor após anos de instabilidade econômica.

Contudo, alguns países do bloco apresentaram quedas expressivas, contrariando a tendência de alta. Na Irlanda, por exemplo, as vendas caíram 10%, uma das maiores reduções do bloco, seguidas por Malta (-6,2%), Hungria (-5,7%) e Finlândia (-5,6%).

“A queda de 10% na Irlanda continua a refletir a acessibilidade limitada e os níveis persistentemente baixos de oferta”, afirmou Kate Everett-Allen, diretora de análise residencial europeia da Knight Frank.

Luxemburgo e Eslovênia registram forte crescimento

Entre os países que registraram avanço nas vendas, o Luxemburgo liderou com um aumento impressionante de 86,6%, impulsionado pelo tamanho reduzido do mercado local, onde pequenas variações têm grande impacto estatístico.

A Eslovênia e a Lituânia também apresentaram desempenhos expressivos, com altas de 34,8% e 24,4%, respectivamente. Bélgica, Portugal e Países Baixos mantiveram crescimento consistente, refletindo a estabilização do crédito e o retorno da confiança no setor.

Everett-Allen explica que as diferenças regionais resultam da reação desigual à política monetária europeia:

“Embora o Banco Central Europeu (BCE) tenha efetuado oito cortes nas taxas de juros durante o atual ciclo, os efeitos variam entre países devido às diferenças nas condições de financiamento, oferta e demanda”.

Programas de incentivo impulsionam primeiros compradores

Em alguns países, iniciativas governamentais têm ajudado a sustentar o mercado. De acordo com Michael Polzler, diretor-executivo da RE/MAX Europe, políticas específicas de apoio a jovens e compradores de primeira habitação estão a impulsionar o segmento mais acessível.

“Em Portugal, por exemplo, o programa de Garantia Pública ajudou jovens com menos de 35 anos a obter crédito hipotecário pela primeira vez. Mas, ao mesmo tempo, os vendedores viram uma oportunidade para aumentar os preços”, destacou Polzler.

Na França, as vendas aumentaram 10,4%, indicando recuperação gradual após um período de retração entre 2023 e 2024. Já na Espanha, o crescimento foi mais modesto, de 2,5%, refletindo o impacto da oferta limitada nas regiões costeiras e insulares.

Desempenho fora da União Europeia

Fora da União Europeia, a Noruega registrou aumento de 10% nas vendas de imóveis no mesmo período, enquanto a Polônia enfrentou uma forte retração de 17,9%, após o encerramento do programa de hipotecas com taxa fixa de 2% implementado pelo governo.

“Sem um substituto para o regime de hipotecas baratas e com juros ainda altos, muitos compradores preferem aguardar até 2026 para ver como o mercado evolui”, afirmou Polzler.

França lidera em números absolutos

Com 244.750 vendas registradas no segundo trimestre, a França mantém o maior volume de transações imobiliárias da União Europeia, respondendo por quase um quarto do total. Os Países Baixos aparecem em segundo lugar, com 63.709 vendas, seguidos por Portugal, Bélgica, Noruega e Hungria, todos entre 32 mil e 38 mil unidades vendidas. 

Essa disparidade reflete não apenas o tamanho dos mercados, mas também fatores como poder aquisitivo, políticas fiscais e velocidade na aprovação de licenças de construção

Alemanha e Reino Unido fora das estatísticas

Embora Alemanha e Reino Unido não estejam incluídos nos números do Eurostat, ambos os mercados permanecem sob observação. No Reino Unido, as taxas de hipoteca fixas diminuíram desde o final de 2024, melhorando a acessibilidade e estimulando o aumento das transações. Alterações no imposto de selo também ajudaram a impulsionar o setor.

Na Alemanha, porém, a situação é invertida: a falta de licenças de construção e o custo elevado de novos projetos continuam a pressionar o mercado imobiliário.

“Esse efeito é particularmente visível nas grandes cidades, onde a escassez habitacional faz os preços subirem ainda mais”, explicou Polzler.

Perspectivas: alta moderada e recuperação desigual

Especialistas acreditam que o segundo semestre de 2025 trará uma recuperação moderada, com países como França, Portugal e Bélgica mantendo tendência de alta, enquanto Irlanda e Hungria enfrentam correções de mercado

“O cenário é de normalização. A Europa caminha para um equilíbrio entre oferta e procura, mas os desafios de acessibilidade e juros ainda pesam sobre os compradores”, conclui Everett-Allen.

O relatório do Eurostat reforça que o mercado imobiliário europeu segue dividido entre o otimismo em alguns países e a estagnação em outros, um retrato claro de um continente em transição econômica.

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