A relação entre literatura e imigração ganhou destaque na participação do escritor e secretário de Estado da Cultura, Alberto Santos, no Festival Literário Internacional da Paraíba (Fliparaíba), no Brasil.
Em meio às discussões sobre identidade, língua e convivência entre culturas, Santos defendeu que a literatura tem um papel central em aproximar pessoas e reduzir tensões sociais num dos temas mais polarizantes em Portugal.
“A literatura pode ser uma ferramenta que ajuda a sociedade a perceber o outro”, afirmou ao Jornal DN, em João Pessoa. Para ele, obras literárias têm a capacidade de revelar experiências humanas, romper fronteiras simbólicas e estimular empatia, algo que considera urgente no atual cenário português.
Experiência literária marcada pelas diferenças culturais
Autor de títulos como A Escrava de Córdova, A Profecia de Istambul e O Segredo de Compostela, Santos conta que suas obras já tratavam de convivência entre religiões e povos diferentes muito antes de a imigração se tornar uma pauta sensível no país.
“Os meus primeiros livros abordam a convivência entre judeus, muçulmanos e cristãos num contexto difícil, há mil anos”, recorda. Ele destaca que sempre explorou temas ligados às diferenças religiosas, sociais e culturais. “A literatura pode ajudar à tolerância e à compreensão”, reforça.
Segundo Santos, compreender o outro é essencial para uma integração verdadeira: “Quanto mais conhecermos o outro, melhor será a integração. O outro também tem angústias, dores e busca pela felicidade, tal como nós.”
Compreensão mútua e desafios atuais em Portugal
Para o secretário, o exercício de compreensão precisa ser recíproco. “Eles também precisam de nos compreender: a nossa cultura, tradição e mundividência”, diz, lembrando que Portugal também tem longa história de emigração e continua a enviar cidadãos para o exterior em busca de melhores oportunidades.
Apesar de defender a literatura como ponte, Santos reconhece que o país enfrenta fragilidades reais no acolhimento. Ele critica a falta de preparação das infraestruturas sociais, médicas e escolares, num momento de aumento da procura por serviços públicos.
Episódios recentes de violência em escolas, como o caso do menino brasileiro que teve os dedos decepados por colegas, reforçam, segundo ele, a urgência de políticas eficazes.
A educação, afirma, é tão essencial quanto a literatura. “A tolerância precisa começar nas escolas; é preciso capacitar as novas gerações para o conhecimento do outro.”
Relação de décadas com o Brasil e novo livro a caminho
Em visita ao Brasil para férias e pesquisa do seu próximo livro, Alberto Santos recorda que mantém ligação íntima com o país há cerca de 30 anos. Parte significativa das suas obras foi escrita em solo brasileiro, durante períodos de isolamento criativo.
Além de participar no Fliparaíba, o escritor conduz conversações para a publicação de seus livros no país. Seu próximo romance, cuja investigação está em fase final, terá o Brasil como cenário e abordará a “capacidade humana de resistir a situações extremas”.