Itália aprova pena de prisão perpétua para feminicídio em votação histórica

A Itália aprovou, por unanimidade, uma nova lei que inclui o feminicídio no Código Penal e prevê prisão perpétua para o crime. O país também avança na atualização da legislação sobre estupro, agora baseada em consentimento “livre e atual”.

Itália aprova pena de prisão perpétua para feminicídio após uma votação unânime na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (25). 

O texto, que já havia passado pelo Senado, agora aguarda apenas a sanção do presidente Sergio Mattarella para entrar em vigor. A decisão coincidiu com o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, marcado por grandes manifestações no país.

Lei redefine feminicídio e endurece punições

O novo artigo define o feminicídio como a morte de uma mulher motivada por:

  1. ódio ou discriminação
  2. controle, posse ou dominação
  3. recusa de relacionamento
  4. limitação da liberdade por ela ser mulher

A pena prevista é prisão perpétua, já aplicada em casos de extrema violência, como o assassinato de Giulia Cecchettini, esfaqueada 75 vezes pelo ex-namorado em 2023.

Apesar da aprovação unânime, juristas alertam para a inclusão de termos como “dominação” e “controle”, considerados vagos e de difícil aplicação no direito penal.

Especialistas temem interpretações subjetivas e possíveis dificuldades para as vítimas provarem que viviam sob controle, o que pode gerar vitimização secundária.

Avanço paralelo: lei do consentimento sexual

Na semana anterior, a Câmara aprovou, também de forma ampla, a reforma do artigo sobre estupro, colocando o consentimento “livre e atual” no centro da definição do crime.

Sem “sim explícito”, a relação passa a ser considerada estupro. A redação esclarece que:

  • “Atual”: a mulher pode retirar o consentimento a qualquer momento;
  • “Livre”: deve estar consciente, sem coerção ou manipulação.

A pena prevista vai de 6 a 12 anos. O texto ainda depende do Senado, mas é considerado uma correção necessária de um atraso histórico no país.

Números mostram urgência do tema

A discussão ganhou força na Itália após casos de forte repercussão, e as estatísticas reforçam o alerta:

  • 0,31 feminicídios por 100 mil mulheres na Itália em 2023
  • 1,4 feminicídios por 100 mil mulheres no Brasil no mesmo ano

Um relatório da ONU divulgado nesta segunda (24) mostrou que, em 2024, uma mulher foi assassinada por alguém próximo a cada 10 minutos no mundo. No total, 50 mil mulheres e meninas foram mortas por parceiros ou familiares no ano passado.

Punição não basta sem prevenção

Especialistas no tema lembram que combater a violência de gênero apenas com endurecimento das leis penais é insuficiente. A advogada Maria Milli Virgilio, referência na área, afirma que a Itália precisa investir em prevenção, educação e políticas sociais.

“É um problema antigo, que não se resolve só com prisão perpétua. Sem investimento, não há mudança cultural”, afirma.

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