Fim do voto por correspondência na Itália para eleitores no exterior

O governo italiano avalia substituir o voto por correspondência na Itália por votação presencial para milhões de eleitores no exterior. A oposição reage e alerta para ameaça à participação democrática.

O voto por correspondência na Itália está prestes a mudar. 

O governo de Giorgia Meloni estuda substituir o atual sistema postal, utilizado por milhões de cidadãos italianos no exterior, por votação presencial já no próximo referendo constitucional, provocando forte reação da oposição e de representantes da comunidade italiana fora do país.

A consulta popular trata da separação das carreiras dos magistrados e será do tipo confirmativo, sem necessidade de quórum mínimo. 

Hoje, todos os cidadãos italianos inscritos no AIRE votam exclusivamente por meio do voto por correspondência na Itália, enviando suas cédulas pelos correios de seus países de residência.

Oposição fala em tentativa de restringir participação

A possibilidade de substituição do voto por correspondência na Itália levou o Partido Democrático (PD) a acusar o governo de tentar limitar o acesso ao voto dos eleitores expatriados.

“É escandaloso que o governo queira mudar às vésperas do voto as regras de um referendo sem quórum, impondo o voto em presença por decreto”, criticou Toni Ricciardi, vice-presidente do PD na Câmara. Ele classificou a manobra como “um método de regime sul-americano”.

Ricciardi afirmou que, caso a proposta avance, o partido recorrerá ao presidente Sergio Mattarella para tentar barrar a mudança. O parlamentar destacou ainda que milhões de italianos vivem longe das sedes consulares e seriam diretamente prejudicados.

“Essa medida pode impedir o exercício do direito ao voto. Se confirmada, será um atentado à democracia”, disse.

Comunidades no exterior alertam para riscos logísticos

No Brasil, onde vivem cerca de 700 mil eleitores italianos, a mudança do voto por correspondência na Itália para um modelo totalmente presencial é vista com cautela. 

Para o conselheiro do CGIE, Daniel Taddone, o voto presencial é, em tese, mais seguro, mas impraticável sem uma grande operação.

Ele explica que o voto postal apresenta vulnerabilidades,como risco de fraude ou atraso, mas lembra que realizar eleições presenciais no exterior exigiria centenas de seções eleitorais. “Somente São Paulo precisaria de pelo menos dez seções”, afirmou ao portal Italianismo.

Segundo Taddone, o país tem cerca de um milhão de cidadãos italianos residentes, dos quais 700 mil são eleitores. “Seriam necessárias mais de cem seções distribuídas pelo território nacional. É uma operação logística altamente complexa”, avaliou.

Modelo híbrido pode ser solução

Para evitar a exclusão de cidadãos, Taddone defende a manutenção parcial do voto por correspondência na Itália. Ele sugere voto presencial onde houver condições estruturais e voto postal para quem vive a mais de 150 quilômetros de um local de votação.

“É fundamental garantir o direito ao voto por correspondência para esses casos, assegurando que ninguém seja privado da participação democrática”, argumentou.

O conselheiro ainda criticou a falta de planejamento do governo Meloni. “Não vejo a seriedade necessária para organizar essa operação corretamente. Desconfio dos reais objetivos da proposta”, concluiu.

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