Logo nos primeiros dias do novo mandato, Luís Filipe Menezes, Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, confirma que Gaia cancela concurso de 510 milhões de euros lançado para recolha de resíduos, limpeza urbana e praias durante 10 anos, um procedimento que já havia sido alvo de críticas durante a campanha eleitoral.
Segundo Menezes, a Águas de Gaia estava “numa situação dramática”, o que exigia um plano de recuperação urgente.
Para conduzir a virada, Menezes chamou Joaquim Poças Martins, antigo vice-presidente e ex-líder da Águas de Gaia nos anos 1990, agora contratado como consultor e “co-manager”.
Internalização pode servir de arma de negociação
Poças Martins apontou o custo elevado do concurso e explicou que a autarquia iria calcular quanto custaria prestar o serviço internamente. “Esse será o preço-base. Se o concurso público ultrapassar esse valor, temos alternativa”, afirmou o consultor.
Apesar disso, Menezes sublinhou que a prioridade é lançar um novo concurso com preço justo e qualidade adequada. Mas, se necessário, a câmara pode recorrer à “bomba atómica”: não adjudicar.
Nova administração e cortes na estrutura
Durante a manhã, o autarca apresentou a nova administração da Águas de Gaia:
- Fernando Barbosa (presidente),
- Rosa Cortez (vogal),
- José Tentúgal Valente (vogal).
Os dois vogais trabalharão pro bono, enquanto o presidente terá remuneração equivalente à de um vereador. Incluindo o valor da consultoria de Poças Martins, Menezes garante que o custo total será inferior ao da antiga administração.
A estrutura interna também será reduzida:
- de 6 direções para 2,
- de 50 chefias para 15.
A meta é eliminar a dependência anual da empresa em relação ao orçamento municipal, que vinha transferindo sete milhões de euros por ano.
Possível redução nas tarifas de água
Segundo Poças Martins, a combinação de cortes administrativos e gestão mais eficiente pode permitir uma redução no preço da água no futuro. Menezes, porém, pede cautela: “Vamos ter de fazer um enorme esforço para conseguir baixar a fatura”.
Casos judiciais e o passado recente da empresa
A Águas de Gaia tem histórico recente marcado por polêmicas. O ex-presidente da câmara, Eduardo Vítor Rodrigues (PS), foi condenado à perda de mandato por peculato de uso envolvendo um carro da empresa municipal.
Em setembro, a Agência Lusa revelou que Miguel Lemos Rodrigues, então presidente do conselho de administração, foi acusado pelo Ministério Público de crimes económicos, incluindo corrupção.
Menezes critica oposição dos últimos anos
Questionado sobre a atuação do PSD durante a governação socialista anterior, Menezes foi direto: “A oposição municipal não existiu.”
O novo executivo promete agora reavaliar contratos, rever estruturas e reorganizar a gestão da Águas de Gaia, com o cancelamento do concurso milionário como primeiro grande movimento.