Governo Merz enfrenta rejeição recorde e perde apoio na Alemanha

O governo Merz enfrenta rejeição recorde na Alemanha apenas sete meses após tomar posse. Com economia estagnada, tensões internas na coalizão e avanço da extrema-direita, a administração conservadora-social-democrata vem perdendo apoio popular.

O governo Merz atravessa o pior momento desde a sua formação. 

Sete meses após assumir o comando da Alemanha, a coalizão entre conservadores da CDU/CSU e o Partido Social-Democrata (SPD) registra níveis históricos de rejeição, enquanto o partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), se consolida como principal força de oposição no país.

Segundo pesquisa divulgada no domingo pelo instituto Insa, apenas 21% dos alemães aprovam o desempenho do governo Merz. 

A taxa de desaprovação chegou a 70%, um aumento de dez pontos percentuais em relação a agosto, quando a administração completava cem dias no poder. O levantamento revela um desgaste acelerado, incomum para um governo recém-empossado.

A avaliação pessoal do chanceler federal Friedrich Merz segue a mesma trajetória negativa. Apenas 23% dos entrevistados aprovam sua atuação, enquanto 68% expressam opinião desfavorável. Os números se aproximam dos índices registrados pelo ex-chanceler Olaf Scholz pouco antes do colapso de sua coalizão, em novembro de 2024.

Economia frustra expectativas

A principal razão para a rejeição ao governo Merz é o péssimo desempenho econômico. 

Após dois anos consecutivos de recessão, provocados sobretudo pela guerra na Ucrânia e pela disparada dos preços da energia, havia expectativa de recuperação em 2025. Contudo, as projeções foram revisadas sucessivas vezes para baixo.

De acordo com o Bundesbank, o crescimento da economia alemã deve ficar em apenas 0,2% em 2025. Já a Comissão Europeia avalia que o país permanecerá em “estagnação” ao longo do ano, com uma leve recuperação apenas a partir de 2026.

Os indicadores recentes reforçam esse cenário. No segundo trimestre de 2025, a economia voltou a contrair. 

As insolvências empresariais alcançaram o maior patamar em uma década, com cerca de 11.900 falências no primeiro semestre, afetando sobretudo pequenas e médias empresas. 

O desemprego subiu ao nível mais alto dos últimos cinco anos, enquanto o número de vagas disponíveis caiu 10% em relação ao ano anterior.

Tensões internas fragilizam coalizão

Além da economia, o governo Merz enfrenta crescentes disputas internas.

Divergências sobre política migratória, previdência, gastos públicos e serviço militar têm colocado à prova a estabilidade da coalizão. 

No Parlamento, votações importantes passaram a ser vistas como testes de sobrevivência da aliança entre conservadores e social-democratas.

Um dos episódios mais controversos foi a mudança de posição de Merz sobre política fiscal. 

Durante a campanha eleitoral, o chanceler defendeu rigor orçamentário. Poucos dias após assumir, no entanto, concordou com a flexibilização das regras constitucionais de endividamento.

A decisão abriu caminho para a criação de um fundo de 500 bilhões de euros destinado a investimentos em infraestrutura e defesa, além de excluir gastos militares acima de 1% do PIB das limitações fiscais. 

Embora o pacote seja visto como necessário para modernizar o país, a guinada custou muito do apoio político e alimentou críticas sobre incoerência.

Avanço da extrema-direita

O desgaste do governo Merz ocorreu em paralelo ao fortalecimento da AfD, que capitalizou o descontentamento popular com a economia, imigração e insegurança social. 

Pesquisas indicam que o partido de extrema-direita já lidera as intenções de voto em algumas regiões do leste alemão.

Especialistas alertam que a ausência de um “período de lua de mel” para o governo aumenta a instabilidade política. 

Além disso, a coalizão não dispõe de maioria no Bundesrat, a câmara alta do Parlamento, o que dificulta a aprovação de reformas estruturais, especialmente em temas sensíveis como imigração.

O cenário externo também pressiona. As tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, principal parceiro comercial da Alemanha, aumentaram a incerteza econômica. 

Em abril, o próprio governo reduziu sua previsão de crescimento para perto de zero, citando o impacto das políticas comerciais americanas.

Com popularidade em queda livre, economia estagnada e um Parlamento fragmentado, o governo Merz enfrenta agora o desafio de recuperar a confiança da população antes que a crise política se aprofunde ainda mais.

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