A plena igualdade de gênero na União Europeia continua distante.
Segundo o mais recente relatório do Instituto Europeu para a Igualdade de gênero (EIGE), as mulheres ganham, em média, apenas 77% do salário anual dos homens. Isso significa que elas precisam de trabalhar 15 meses e 18 dias para receber o mesmo valor que eles ganham num ano.
Ao ritmo atual, o organismo estima que serão necessários mais 50 anos para que a União Europeia atinja igualdade total.
O relatório, publicado esta semana, atribui à União Europeia uma pontuação global de 63,4 pontos em 100 no Índice de Igualdade de Gênero. Apesar de representar um avanço de 10,5 pontos desde 2010, o progresso é considerado demasiado lento e desigual.
Alguns Estados-membros, como Chipre, têm pontuações tão baixas quanto 47,6, enquanto a Suécia lidera com 73,7. Portugal mantém a mesma média da UE.
“Trimestre fantasma”: três meses de trabalho não pago
Para Carlien Scheele, diretora do EIGE, a disparidade salarial equivale a um “trimestre fantasma”.
“As mulheres trabalham gratuitamente o equivalente a três meses e 18 dias por ano. Isso é injusto e prejudica a competitividade da Europa”, afirma.
Esse tempo perdido poderia ser usado para educação, descanso, convívio familiar ou progressão na carreira, mas acaba refletido em pensões mais baixas e menor rendimento ao longo da vida.
Desigualdades persistem em várias áreas
O Índice avalia sete domínios centrais: poder, dinheiro, conhecimento, trabalho, tempo, saúde e violência, além de desigualdades interseccionais. Em cada um deles, o relatório identifica barreiras relevantes.
Dinheiro
Mulheres ganham apenas 77% dos rendimentos anuais dos homens. Dentro de casais heterossexuais, recebem em média menos 30% do que os seus parceiros.
Conhecimento
Mulheres jovens apresentam melhor desempenho no ensino superior, mas continuam direcionadas para profissões desvalorizadas, como educação, saúde e trabalho social.
Tempo
As mulheres assumem a maior parte dos cuidados não remunerados e das tarefas domésticas, o que limita participação na vida pública e no lazer.
Trabalho
Embora o emprego feminino esteja a crescer, poucas mulheres chegam a cargos de gestão, posições melhor remuneradas ou setores de tecnologia da informação. A maternidade restringe oportunidades, enquanto a paternidade tende a melhorá-las para os homens.
Poder
Apesar de ser o domínio que mais contribuiu para o progresso recente, continua com a pontuação mais baixa (40,5), refletindo a escassez de mulheres em cargos de decisão política e económica.
Saúde
É o domínio com melhor pontuação (86,2), mas estagnou. Há fortes indícios de desigualdades entre mulheres com diferentes níveis de escolaridade, e os homens seguem com piores índices em comportamentos de saúde.
Violência
A violência contra as mulheres permanece: 31% já sofreram violência física e/ou sexual na vida adulta, com maior incidência entre mulheres abaixo dos 45 anos.
Progresso lento exige medidas ambiciosas
Para Scheele, “a Europa avançou, mas muito lentamente”. Ela defende ações para garantir igualdade salarial, sistemas de cuidados que permitam divisão justa das responsabilidades e metas claras de liderança feminina.
O EIGE lembra que a desigualdade afeta não só mulheres, mas também o desenvolvimento econômico do bloco, e que acelerar o progresso é essencial para garantir competitividade e justiça social.