O governo da francês, liderado por Sébastien Lecornu, decidiu aumentar os impostos na França aplicados às grandes corporações, após semanas de pressão política no Parlamento.
A medida, aprovada nesta segunda-feira (28), eleva a carga tributária sobre empresas com faturamento acima de 3 bilhões de euros anuais, ampliando a contribuição extraordinária prevista no Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Coletivas (IRC).
A votação terminou com 196 votos a favor e 149 contra, garantindo a aprovação de uma emenda apresentada de última hora pelo Executivo.
O aumento dos tributos atende a uma exigência do Partido Socialista (PS), que vinha ameaçando derrubar o governo caso o texto não incluísse medidas de justiça social e redistribuição de renda.
Nova tributação deve arrecadar bilhões de euros
Segundo o ministro da Economia, Roland Lescure, a alteração permitirá arrecadar cerca de 6 bilhões de euros em 2025, dois bilhões a mais do que o previsto na proposta original. A estimativa é que, no ano seguinte, o valor chegue a 8 bilhões de euros.
As médias empresas (ETI), por sua vez, pagarão uma contribuição menor, após ajustes negociados com o PS. A medida foi apresentada como forma de garantir equilíbrio orçamental sem penalizar os negócios de médio porte.
“Trata-se de um esforço partilhado para assegurar a estabilidade fiscal e preservar os serviços públicos”, afirmou Lescure durante o debate orçamental.
Pressão socialista por justiça fiscal
O Partido Socialista, fundamental para a sobrevivência do governo Lecornu, exige contrapartidas em prol da justiça social. O deputado Philippe Brun declarou que o partido não apoiará o orçamento “se não houver medidas que protejam as classes trabalhadoras e médias”.
Entre as principais reivindicações está o chamado “imposto Zucman”, proposto pelo economista Gabriel Zucman, que prevê taxar patrimônios acima de 100 milhões de euros em 2% adicionais.
Após críticas, o PS apresentou uma nova versão, chamada “Zucman light”, que amplia o alcance da tributação, mas preserva empresas familiares e startups ainda não rentáveis.
A nova proposta sugere taxa de 3% para bens superiores a 10 milhões de euros, com isenção para companhias de base tecnológica e familiar.
Orçamento de 2026 e reforma das pensões
A discussão sobre os impostos na França ocorre no contexto da tramitação do Orçamento do Estado para 2026, que já enfrenta resistências dentro e fora do Parlamento.
Na semana passada, o governo foi forçado a suspender temporariamente a reforma das pensões, uma das exigências do PS para permitir o início do debate sobre o orçamento.
O Executivo tenta equilibrar as contas públicas em meio a um déficit fiscal superior a 5% do PIB, ao mesmo tempo em que enfrenta protestos por aumento do custo de vida e pressão por investimentos sociais.
Reação empresarial e críticas da oposição
As entidades empresariais francesas reagiram negativamente ao aumento dos impostos.
A MEDEF, principal confederação patronal da França, afirmou que a decisão “transmite um sinal de instabilidade aos investidores internacionais” e pode reduzir a competitividade das empresas francesas no mercado global.
Em contrapartida, economistas progressistas consideram a medida um passo necessário.
“Durante anos, as grandes corporações acumularam lucros recordes enquanto a dívida pública crescia. É legítimo que contribuam mais para o esforço nacional”, afirmou Jean-Marc Daniel, professor da Sciences Po Paris.
Moção de censura segue em discussão
Apesar de a votação representar um avanço, o Partido Socialista ainda ameaça apresentar uma moção de censura caso suas exigências não sejam integralmente atendidas.
O deputado Brun declarou ao Le Monde que “a luta por um orçamento mais justo está apenas começando”.
O governo, por sua vez, tenta negociar nos bastidores para evitar uma nova crise política. A coalizão de Lecornu, que não tem maioria absoluta na Assembleia Nacional, depende de alianças pontuais para se manter no cargo.
França tenta equilibrar justiça social e estabilidade política
O aumento dos impostos na França representa não apenas uma manobra fiscal, mas também um gesto político em um momento de forte polarização.
O governo busca conciliar responsabilidade orçamental com redistribuição de riqueza, respondendo à demanda crescente por equidade.
Economistas avaliam que, se bem administrada, a medida poderá fortalecer as finanças públicas e melhorar a percepção internacional sobre o compromisso francês com a sustentabilidade econômica.
“É uma tentativa de reconciliar o país com a ideia de que o crescimento precisa ser inclusivo”, resume o analista político Olivier Duhamel.
Com o debate orçamental em andamento e a oposição ainda dividida, o desfecho das negociações determinará não apenas o futuro do governo Lecornu, mas também o rumo da política fiscal e social da França nos próximos anos.