Um mês após o episódio de violência que chocou a comunidade escolar em Portugal, o caso do estudante brasileiro dedos decepados segue sem conclusão oficial.
O menino José, que completou 10 anos recentemente, ainda enfrenta dificuldades físicas e emocionais após ter dois dedos da mão esquerda decepados por colegas dentro da escola onde estudava, em Cinfães, no centro do país.
A agressão ocorreu no dia 10 de novembro, na Escola Básica de Fonte Coberta. Segundo o relato da família, alunos prenderam a mão da criança na porta do banheiro, provocando a mutilação.
José foi levado em estado grave para o Hospital São João, no Porto, onde passou por uma cirurgia de cerca de três horas. Partes dos dedos não puderam ser reimplantadas porque teriam sido descartadas no local.
Apesar da gravidade do episódio, o inquérito interno ainda não foi finalizado. Procurado pelo Jornal PÚBLICO, o Agrupamento de Escolas de Souselo informou que a investigação está sob responsabilidade da Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC), órgão do Ministério da Educação.
Até o fechamento desta edição, a IGEC não havia se manifestado.
Impactos físicos e emocionais
José ainda apresenta feridas abertas e quase não consegue movimentar a mão esquerda. Devido ao estado clínico e emocional, ele não iniciou fisioterapia.
A mãe, Nívea Estevam, afirma que o filho está profundamente abalado. “Ele praticamente não fala. Está quase mudo desde o que aconteceu. É uma violência brutal que nunca será esquecida”, declarou.
A família decidiu, com orientação jurídica, que o menino só prestará depoimento diretamente ao Tribunal de Justiça.
Segundo Nívea, tanto a Guarda Nacional Republicana (GNR) quanto a IGEC tentaram ouvi-lo, mas reviver o trauma tem sido considerado prejudicial. “O depoimento será gravado em juízo, para evitar múltiplas abordagens”, explica.
José está em acompanhamento psicológico e faz uso de medicação para dormir. A Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) ofereceu apoio, mas a família optou por manter o atendimento com a profissional que já acompanha o caso.
Mudança forçada e medo de retaliações
Desde o episódio, o estudante não retornou à escola. A família deixou Cinfães por receio de represálias e está temporariamente em Santa Maria da Feira, onde vive com parentes. “Não sabemos quando esse pesadelo vai acabar”, afirma Nívea.
Ela também relata que outras mães a procuraram após o caso ganhar repercussão, afirmando que seus filhos sofreram violência em ambiente escolar, mas que tinham medo de denunciar.
Questionamentos sem resposta
A advogada da família tentou obter informações sobre quem teria limpado o local da agressão e sob quais orientações, mas, segundo Nívea, a escola não respondeu.
“Quando cheguei, tentaram minimizar o ocorrido, como se fosse apenas uma brincadeira que deu errado”, relata.
O episódio passou a ser acompanhado pelo governo brasileiro. O embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carreiro, solicitou formalmente esclarecimentos ao ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre.
Em resposta, o ministro afirmou que o caso está sendo apurado e que o Estado português dará proteção ao estudante.
Enquanto isso, a família aguarda respostas, e justiça, diante de um caso que expôs falhas graves na proteção de crianças no ambiente escolar.