Itália abre portas a imigrantes por falta de trabalhadores

A Itália abriu exceções em sua política migratória para atrair trabalhadores e descendentes de italianos, diante da escassez de mão de obra e do risco de colapso do sistema de pensões.

A afirmação de que a Itália abre portas a imigrantes por causa da falta de trabalhadores e da crise no sistema de pensões é verdadeira. 

Apesar do discurso historicamente rígido do governo liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni, o país começou a flexibilizar regras migratórias para responder a uma realidade demográfica e econômica cada vez mais preocupante.

Nos últimos meses, o governo italiano aprovou medidas que facilitam a entrada de estrangeiros e descendentes de italianos no mercado de trabalho, reconhecendo que a escassez de mão de obra ameaça setores estratégicos da economia e a sustentabilidade do sistema previdenciário.

Mudança prática, discurso mantido

Eleita em 2022 com forte retórica anti-imigração e o slogan “A Itália e os italianos em primeiro lugar”, Meloni promoveu restrições à concessão da nacionalidade italiana e endureceu o controle migratório. 

Entre as mudanças, constava a limitação do reconhecimento da cidadania italiana por descendência apenas a filhos e netos de cidadãos nascidos na Itália, excluindo bisnetos.

No entanto, a pressão foi tanta que forçou um recuo parcial da proposta. Em novembro, o governo aprovou um decreto-lei que permite a entrada facilitada de descendentes de italianos provenientes de sete países: Argentina, Brasil, Uruguai, Venezuela, Estados Unidos, Canadá e Austrália.

A medida autoriza a concessão de vistos de trabalho sem limite de quotas nacionais, algo que antes restringia fortemente a imigração de fora da União Europeia.

Crise demográfica e alerta econômico

A mudança ocorre em meio a um cenário descrito como “inverno demográfico”.

Um relatório do Censo, divulgado no início de dezembro, apontou o rápido envelhecimento da população italiana, a queda contínua na taxa de natalidade e o aumento da emigração de jovens.

Segundo o Observatório de Contas Públicas da Itália, para manter o atual nível populacional, o país precisaria receber ao menos 10 milhões de imigrantes até 2050. 

O estudo alerta que, sem um plano migratório estruturado, a Itália corre o risco de não ter trabalhadores suficientes para sustentar, no futuro, o sistema de pensões, a saúde pública, a educação e outros serviços essenciais.

As projeções são ainda mais graves a longo prazo: até 2100, a força de trabalho pode ser insuficiente para garantir a arrecadação necessária ao funcionamento do Estado.

Mais vistos e foco no trabalho

Além da abertura específica para descendentes de italianos, o governo anunciou, em junho, a concessão de cerca de 500 mil novos vistos de trabalho para cidadãos de países fora da União Europeia no período entre 2026 e 2028.

O objetivo é suprir a falta de profissionais em setores como indústria, agricultura, saúde, construção civil e serviços, que já enfrentam dificuldades para preencher vagas.

Os países beneficiados pela nova regra foram escolhidos por concentrarem mais de 100 mil descendentes de italianos inscritos no Registro dos Italianos Residentes no Exterior (AIRE) até o fim de 2024.

População segue resistente

Apesar da flexibilização prática, a percepção social sobre a imigração continua negativa. 

O mesmo relatório do Censo revela que 63% dos italianos defendem a limitação da entrada de imigrantes, e 54% os veem como ameaça à identidade nacional.

Ao mesmo tempo em que abre exceções para atrair trabalhadores, o governo mantém medidas duras, como a tentativa de transferir migrantes que chegam de barco para centros de detenção na Albânia e a aprovação de propostas que dificultam o acesso de imigrantes a benefícios sociais.

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