Portugal aumenta investimento e quer “Europa rearmada”

O governo português anunciou um aumento de 14,8% no orçamento da Defesa Nacional, com ênfase em cibersegurança, inteligência artificial e defesa antiaérea, no âmbito da iniciativa europeia European Sky Shield. A proposta, apresentada pelo ministro Nuno Melo, visa consolidar o papel de Portugal na defesa antiaérea europeia e aproximar o país da meta de 2% do PIB em gastos militares até 2029. As missões no exterior também terão um reforço de 58%, incluindo o envio de novas forças para a Lituânia.

Portugal aumenta investimento e quer “Europa rearmada”

O Ministério da Defesa Nacional apresentou um aumento expressivo no orçamento para 2026, com foco no fortalecimento das capacidades militares e no compromisso com uma “Europa rearmada”.

Segundo a nota explicativa enviada ao Parlamento português, o orçamento da pasta sobe 14,8% em relação ao de 2025, totalizando 3,77 mil milhões de euros.

O ministro Nuno Melo defende que o reforço orçamental é essencial diante da crescente instabilidade geopolítica global e do papel de Portugal nas missões conjuntas da União Europeia e da OTAN.

“As condições geopolíticas atuais tornam incontornável o reforço do investimento em defesa, dentro e fora do território nacional, lado a lado com os nossos aliados, robustecendo o objetivo de uma Europa rearmada”, diz o documento.

Defesa antiaérea é prioridade estratégica

Entre as principais áreas contempladas está a defesa antiaérea, considerada prioridade no quadro da iniciativa European Sky Shield, um projeto europeu que busca fortalecer a proteção do espaço aéreo comum.

O investimento nessa área faz parte da meta de convergir, até 2029, para os 2% do PIB em despesas militares, um compromisso assumido com a OTAN.

Do total orçamentado, 983 milhões de euros (26,1% da despesa) serão destinados a investimentos estruturais, especialmente em sistemas tecnológicos e equipamentos de alta precisão.

“A priorização de setores tecnológicos emergentes — ciberdefesa, drones, inteligência artificial, sensores, sistemas autónomos — posicionará Portugal como ator relevante nas cadeias europeias de valor”, afirma a nota.

Mais missões no exterior e aumento de 58% nas Forças Nacionais Destacadas

O orçamento também prevê um aumento recorde de 58% nas verbas destinadas às Forças Nacionais Destacadas (FND), que atuam em missões internacionais de paz e segurança.

Esse valor subirá de 93,5 milhões para 148 milhões de euros, refletindo o compromisso de Portugal com as operações da OTAN e da União Europeia.

A medida ocorre no momento em que o governo se prepara para anunciar o envio de uma nova força de fuzileiros para a Lituânia, país que integra o flanco leste da OTAN e enfrenta crescente pressão militar devido à proximidade com a Rússia.

“As Forças Nacionais Destacadas são exponencialmente capacitadas. O aumento orçamental é um sinal claro do reforço da presença internacional portuguesa”, afirma o documento.

Modernização militar e novos equipamentos

O programa de reequipamento das Forças Armadas inclui a compra e atualização de aeronaves, helicópteros e sistemas de apoio logístico.

Entre os principais investimentos estão:

  1. Aeronaves de transporte KC-390, de fabricação brasileira;
  2. Helicópteros de apoio e vigilância;
  3. Aeronaves A-29 “Super Tucano”, para missões de treinamento e reconhecimento;
  4. Recuperação do Arsenal do Alfeite;
  5. Modernização de infraestruturas de munições e defesa costeira.

Essas aquisições fazem parte de uma estratégia de autonomia operacional e de fortalecimento da indústria de defesa nacional, com ênfase em tecnologia e interoperabilidade europeia.

Portugal e a integração europeia da defesa

O governo destaca que o aumento orçamental não se trata apenas de gasto militar, mas de investimento estratégico na integração europeia da defesa.

O conceito de uma “Europa rearmada”, defendido por Nuno Melo, está alinhado à visão de autonomia estratégica da União Europeia, que busca reduzir a dependência militar em relação aos Estados Unidos.

“A revalorização dos conceitos de dissuasão e soberania exige uma resposta coordenada e robusta por parte dos Estados europeus”, diz o texto.

Analistas políticos apontam que Portugal, historicamente visto como um participante periférico na política de defesa europeia, quer agora assumir um papel mais ativo, sobretudo nas áreas de tecnologia, vigilância e defesa aérea.

Investimento e contexto geopolítico

A guerra na Ucrânia, as tensões no Médio Oriente e o aumento da influência de potências emergentes como a China e o Irão levaram diversos países europeus a reverem suas políticas de defesa.

O orçamento português reflete essa tendência, ao priorizar áreas consideradas estratégicas: defesa antiaérea, ciberdefesa, drones e inteligência artificial.

Especialistas em segurança, como o analista militar Jorge Bacelar Gouveia, destacam que o aumento orçamental representa “um ponto de viragem” na política de defesa nacional.

“Portugal está a reconhecer que a segurança deixou de ser apenas uma questão de soberania territorial, é também tecnológica e digital. O investimento em defesa antiaérea e cibersegurança é essencial para garantir proteção e interoperabilidade com os aliados”, afirmou Gouveia.

Uma Europa mais preparada?

Com o orçamento robusto e uma visão mais integrada, Portugal vem reforçando sua posição no cenário europeu como um parceiro ativo na construção de uma Europa rearmada, digital e segura.

O desafio, segundo especialistas, será equilibrar o investimento militar com as demandas sociais internas e garantir que os recursos aplicados em defesa resultem em benefícios tecnológicos e industriais para o país.

“A segurança é uma responsabilidade coletiva. Portugal quer contribuir de forma estratégica e eficiente”, concluiu o ministro Nuno Melo no Parlamento.

Comente

Neste Artigo

Sobre o autor