O Vaticano inova ao afirmar que o sexo no casamento é mais do que ter filhos, defendendo que a relação sexual fortalece a união entre os cônjuges e não precisa ter a procriação como finalidade exclusiva.
A declaração está em uma nova nota doutrinal do Dicastério para a Doutrina da Fé, publicada nesta terça-feira (25) e aprovada pelo Papa Francisco.
Documento defende união conjugal e critica poligamia e poliamor
A nota, intitulada Una Caro (Uma Só Carne), foi elaborada em resposta a debates levantados no Sínodo Mundial de 2023–2024, especialmente sobre a prática da poligamia por fiéis em alguns países africanos. Segundo o texto, a monogamia expressa uma “união exclusiva” e um vínculo que “não pode ser partilhado”.
Os autores, o cardeal Victor Manuel Fernández e o monsenhor Armando Matteo, também destacam que o crescimento do poliamor no Ocidente reforçou a necessidade de reafirmar a visão católica do matrimônio.
Sexo fortalece vínculo e não precisa ter intenção de gerar filhos
Em um dos trechos mais comentados, o Vaticano afirma:
“A união sexual, como expressão da caridade conjugal, deve permanecer aberta à vida, mas isso não significa que a procriação precise ser o fim explícito de cada ato sexual.”
O texto diz que a sexualidade tem um propósito unificador e contribui para “enriquecer e fortalecer a união única e exclusiva” entre marido e mulher.
Referências literárias e retomada do Concílio Vaticano II
Além de citar documentos oficiais e Papas anteriores, o texto surpreende ao trazer referências a poetas como Pablo Neruda, Montale, Paul Éluard, Tagore e Emily Dickinson.
A nota reafirma ainda o que diz o Concílio Vaticano II: o casamento é uma “comunhão de amor e de vida”, estabelecida por Deus e sustentada pela liberdade e pelo compromisso mútuo.
Pertencimento mútuo, cuidado e rejeição da dominação
O documento também discute temas contemporâneos, como relações abusivas e violência. Ele destaca que o amor conjugal implica respeito pela liberdade do outro, condenando qualquer forma de dominação emocional, psicológica ou física.
“Quem ama sabe que o outro não pode ser um meio de resolver a sua própria insatisfação”, afirma o texto.
Essa reflexão, segundo o cardeal Fernández, toca indiretamente no debate sobre violência contra a mulher, ainda que o termo feminicídio não apareça na nota.
Monogamia como unidade que não se divide
O Vaticano conclui que o casamento cristão é uma unidade formada por dois indivíduos que escolhem livremente estabelecer um vínculo único, exclusivo e renovado continuamente. Essa unidade é a base da indissolubilidade e da fidelidade.
Segundo o documento, um matrimônio autêntico exige tamanha intimidade e entrega que “não pode ser compartilhado com outros”.