Quase metade da população já sofreu violência em Portugal, revela novo estudo

Um relatório da Nova SBE mostra que quase metade dos portugueses já sofreu violência, mas mulheres são as mais atingidas, com mais gravidade, mais repetição e maior impacto psicológico. O documento também revela baixa taxa de denúncias, percepções desiguais entre géneros e desafios persistentes, apesar de Portugal ter índices inferiores à média da UE.

A violência em Portugal atinge níveis preocupantes: quase metade da população já sofreu algum tipo de agressão ao longo da vida, e as mulheres são, disparado, o grupo mais afetado, sobretudo em contextos de intimidade, violência sexual e assédio. 

Os dados integram a nota “Género e Violência em Portugal: Um Retrato da Desigualdade”, que acompanha o relatório Portugal, Balanço Social 2025, da Nova SBE.

O retrato geral da violência

Segundo os dados, 46,8% das mulheres e 42,6% dos homens já foram vítimas de violência. Entre os principais tipos de violência, temos:

  • Íntima: 22,5% das mulheres e 17,1% dos homens.
  • Física e/ou sexual: 19,7% das mulheres, com episódios repetidos em mais da metade dos casos.
  • Sexual: 6,4% das mulheres e 2,2% dos homens.
  • Psicológica: a mais comum, com 21,8% das mulheres e 16,8% dos homens.

O relatório sublinha que a severidade é maior entre mulheres: 62,7% reportam danos físicos e quase 20% relatam limitações nas atividades diárias.

Denúncias continuam baixas

Apesar da magnitude do problema, apenas 65,3% das vítimas contaram o que aconteceu, e a maioria apenas para familiares e amigos.

Somente cerca de 20% apresentaram queixa às autoridades, mostrando persistente desconfiança e estigma social.

Percepção de segurança: diferença enorme entre géneros

As mulheres sentem mais medo no dia a dia:

  • 77,1% dizem se sentir seguras ao andar sozinhas à noite.
  • Entre homens, o número sobe para 89,5%.

E as percepções sobre a violência também divergem:

  • 44% das mulheres consideram muito comum a violência de parceiros contra mulheres.
  • Apenas 25% dos homens concordam.

Já a violência de mulheres contra homens é vista como “muito comum” por apenas 10,5% das mulheres e 6,9% dos homens,o que, segundo o relatório, revela subestimação da vitimização masculina.

Violência no trabalho: assédio ainda é uma realidade

O relatório também analisa o contexto laboral:

  • 23,8% das mulheres sofreram assédio constante.
  • 12,3% já passaram por assédio sexual.

Entre homens, as taxas são menores (17,3% e 5,2%), reforçando a desigualdade de gênero. Mais da metade das mulheres que sofreram assédio sexual relatam episódios repetidos, mostrando a continuidade do problema.

Portugal em comparação com a União Europeia

O país apresenta índices de violência mais baixos que a média europeia:

  • Violência na intimidade: 22,5% em Portugal e 31,8% na União Europeia;
  • Violência física/sexual: 19,7% em Portugal e 30,7% na União Europeia.

Mas a taxa de denúncia continua mais baixa, revelando obstáculos culturais e institucionais que prejudicam a proteção das vítimas.

Caminhos e desafios

O estudo concluiu que, apesar dos avanços, as desigualdades de género continuam presentes, e a violência é ao mesmo tempo causa e consequência desse cenário.

O relatório recomenda uma resposta combinada entre:

  • educação e prevenção,
  • apoio social,
  • políticas públicas robustas,
  • e atuação mais eficaz da justiça.

Marcha pelo fim da violência

No dia 25 de novembro, Lisboa será palco de uma grande manifestação pelo fim da violência de género, com concentração no Intendente e caminhada até o Largo de São Domingos, assinalando o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

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