Portugal vive uma inflexão em sua política migratória. Após anos de forte entrada de estrangeiros, o país passou a registrar um aumento expressivo na saída de trabalhadores imigrantes, com crescimento de cerca de 40% no número de partidas em relação ao ano anterior. O movimento tem chamado a atenção de economistas, empresários e especialistas em demografia.
Mudança de regras acelera abandonos
O aumento das saídas ocorre em meio a mudanças nas regras de regularização migratória, implementadas ao longo de 2024. A revogação de mecanismos que permitiam a legalização com base em tempo de contribuição à Segurança Social tornou o processo mais lento e incerto, levando muitos trabalhadores estrangeiros a buscarem alternativas em outros países europeus.
Na prática, imigrantes que já estavam empregados passaram a enfrentar insegurança jurídica, dificuldades para renovar documentos e entraves burocráticos, fatores que contribuíram para a decisão de deixar o país.
Queda nas entradas agrava cenário
Além do aumento das saídas, Portugal também registra redução no número de novos imigrantes, o que afeta diretamente o saldo migratório. Esse duplo movimento, menos entradas e mais saídas, marca uma mudança relevante em um país que, até recentemente, dependia fortemente da imigração para sustentar o mercado de trabalho.
Impacto direto em setores estratégicos
Setores como construção civil, hotelaria, restauração, agricultura e serviços estão entre os mais afetados. A mão de obra imigrante é considerada essencial nessas áreas, e a saída acelerada de trabalhadores já começa a gerar relatos de escassez, atrasos em obras e dificuldades operacionais.
Empresários alertam que a perda desse contingente pode comprometer a competitividade da economia portuguesa, especialmente em regiões onde a população local é mais envelhecida.
Efeito sobre a Segurança Social
Outro ponto de preocupação é o impacto nas contas da Segurança Social. Imigrantes ativos contribuem diretamente para o sistema previdenciário, ajudando a equilibrar um país com baixa taxa de natalidade. A redução desse grupo pode pressionar ainda mais o modelo de financiamento no médio e longo prazo.
Portugal deixa de ser destino preferencial?
Durante a última década, Portugal se consolidou como um dos destinos mais procurados por trabalhadores estrangeiros, especialmente de países lusófonos. Agora, com regras mais rígidas e maior incerteza, o país passa a disputar espaço com outros destinos europeus que oferecem processos mais rápidos de regularização e melhores perspectivas de estabilidade.
Especialistas avaliam que, sem ajustes, Portugal corre o risco de perder atratividade justamente em um momento em que precisa de trabalhadores para sustentar o crescimento econômico e o sistema social.
Um novo ciclo migratório em curso
O aumento das saídas de imigrantes sinaliza o início de um novo ciclo migratório, marcado por maior seletividade e menor previsibilidade. O desafio do governo será equilibrar controle migratório com as necessidades reais do mercado de trabalho, sob pena de aprofundar gargalos econômicos e sociais.
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